Artigo: Fiquemos atentos!

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Por: Rodrigo Segantini*

Quando a seleção brasileira masculina de futebol joga, sobretudo em uma copa do mundo, alguma coisa acontece de diferente em todos nós. O país literalmente pára para assistir à partida e todo mundo supera qualquer dificuldade, adversidade ou diferença para torcermos juntos para o time. Quando o escritor Nelson Rodrigues escreveu que a seleção seria a pátria de chuteiras, ele sabia muito bem do que estava falando e traduziu com perfeição o que de fato acontece.

Em tempos de torneios em que a seleção brasileira masculina de futebol disputa, nada mais importa, tudo é perdoado, devemos todos estarmos atentos, torcendo e unidos em prol deste propósito. Não se trata de concordar ou não. É algo cultural, é da identidade do brasileiro, é um dos laços que nos torna nacionais e irmãos entre si. Isso é assim há 100 anos e tudo indica que será assim por muitos anos adiante.

Por isso mesmo, os aproveitadores de plantão se valem destas temporadas para fazerem o que desejam mas têm vergonha de confessar, de admitir ou de serem vistos fazendo. Mais especificamente, quero dizer sobre a classe de nossos dirigentes políticos, nossos representantes em instâncias de poder. Valendo-se da oportunidade de ninguém estar prestando atenção em suas condutas, alguns sugerem, pretendem ou tentam desafiar os limites da probidade ou atentar sutilmente as instituições democráticas.

Nem penso que, por causa do esboço de um rascunho de artículo em uma publicação eletrônica diletante editada por um esforçado e dedicado jornalista no interior de São Paulo, alguém vá mudar de opinião a respeito do apreço compulsório que nossa gente dedica à seleção brasileira masculina de futebol, já que nem eu mesmo vou me esforçar para gostar menos de assistir às partidas que ela disputar, principalmente em Copas do Mundo. Porém, em razão da minha vaidade, de alguma forma gosto de pensar que o que escrevo pode levar um ou outro acidentalmente à reflexão sobre as armadilhas que essa época esconde e cujo preço será pago futuramente pelo nosso povo.

Parece que passou, mas ainda não passou. Lula finge que já virou a página e segue em frente se preparando para tomar posse como presidente da república em janeiro próximo. Bolsonaro, por outro lado, finge que algo ainda acontecerá para reverter o irreversível, a fim de mudar seu destino e prorrogar sua condição como presidente da república para além de janeiro próximo. Como só há um cargo de presidente, de modo que só um pode ocupá-lo, os dois ficam se bicando. Mas esse não é o problema que temos diante de nós em tempos de Copa do Mundo.

O problema que temos e que a Copa do Qatar pode anuviar é que está em discussão o orçamento do governo federal, do governo estadual e do governo municipal, nos quais é previsto como os recursos públicos deverão investidos – você sabia disso? Porque você não sabia e está ocupado demais com os jogos da seleção, os políticos estão trabalhando sem que você veja ou acompanhe. O problema que temos e que a Copa do Qatar pode anuviar é que, por mais que os partidários de Jair Bolsonaro digam que você deve se manter em riste aguardando uma rebelião que vai mudar o cenário político nacional, não há a menor chance de isso acontecer – você sabia disso? Porque você não sabia e está ocupado demais com os jogos da seleção, os políticos alimentam uma conspiração que não existe para manter uma rivalidade que não tem cabimento e a ilusão destrutiva de um grupelho que, apesar de pequeno, é suficiente para tumultuar a paz nacional e atrapalhar o sossego alheio.

Então, que seja assim! Vamos torcer todos juntos pela seleção brasileira na Copa do Qatar para que o escrete brasileiro vença o torneio e traga o troféu para a gente, como se trouxesse para cada um de nós. Mas não nos esqueçamos que há vários outros assuntos e demandas que exigem igualmente nossa atenção.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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